sábado, 9 de dezembro de 2006

Shemesh Tsedaqah

Shemesh Tsedaqah é normalmente traduzido como "Sol de Justiça". A expressão encontra-se em Malaquias, o último profeta antes de chegarmos ao Novo Testamento:


Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que o não serve.

Pois eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como restolho; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo.

Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas; e vós saireis e saltareis como bezerros da estrebaria.

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Não pretendo com este blog "criar" um sol de justiça. Utilizo o nome apenas porque penso ser uma imagem mais positiva que Nightrain, que é o nick que normalmente utilizo. Muitas mudanças estão acontecendo de forma radical na minha vida, em rigorosamente todas as áreas e por isso "mudar um nome" me parece adeqüado.

O que vocês encontrarão aqui será uma seleção da coisas mais inúteis que já existiram no mundo: minhas opiniões. De fato, creio que opiniões nada mais são do que contemplações narcisísticas de nós mesmos. Quando eu digo "odeio beringela", nada falo a respeito da beringela, mas apenas de mim mesmo. É triste que em nossa época muitos considerem o ápice do desenvolvimento intelectual "ter opinião própria". Trata-se de uma idiotice de marca maior. Primeiro porque acima de opiniões, existe o conhecimento de fato. Este sim é o cume do desenvolvimento em uma dada área: conhecer o que há para ser conhecido, seja Deus ou a técnica de seu trabalho. Mas elegemos como valor o "achismo". Vale mais o sujeito que tem a "opinião" correta sobre a árvore do que aquele que a conhece de fato.

Naturalmente, esse culto da opinião é mero pedantismo pseudo-intelectual. Ninguém se deixa operar por um cirurgião que "acha" que sabe o que você tem, nem tampouco que "ache" que a intervenção correta é esta ou talvez aquela. Um engenheiro civil que apresentasse uma planta neglicenciando os princípios e leis de sustentação de um prédio em nome da sua própria "opinião" sobre como prédios deveriam ser é, efetivamente, criminoso se chega a construir seu delírio.

Cultivar opiniões, portanto, nada mais é que trabalhar para estagnarmos em nosso amadurecimento, continuando na fase internalizada de culto do próprio ego. Nesta condição, importa mais ao sujeito a impressão causada do que o causador da impressão. É, enfim, um escravo da caverna platonica, um feliz e decidido morador da Matrix.

Por que então, expor as minhas opiniôes? Provavelmente tem um caráter psicanálitico nisso. Como eu disse, muitas mudanças estão ocorrendo e talvez eu precise mesmo expor um pouco da minha subjetividade para que eu mesmo possa contemplá-la como terceira pessoa num momento posterior. Talvez porque em uma fase de muita pressão eu esteja sucumbindo a alguma compulsão narcisistica. Penso, porém, que tem a ver com o meu crescente descrédito a respeito das pessoas. Imersas em relativismo rasteiro, estão desinterassadas da Verdade, tecem louvores à perspectiva de terem sua liberdade cerceada em nome de pão e circo modernos (bem-estar social e cultura). Enfim, mentalidade de escravos.

Num mundo tal, todo diálogo racional torna-se conversa de "loucos". Os raios de sol são alucinações; apenas as sombras são verdadeiras em tal mundo. Eu conto nos dedos as pessoas com quem posso entabular conversação a respeito de uma realidade 'real' e elas sabem do que eu estou falando. Quem sabe, expondo de forma rasteira alguns pontos, eu não consiga mais alguns loucos? Talvez até montemos nosso próprio sanatório... ;)

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