Hoje em dia é anátema sequer alegar que existe uma verdade, especialmente em assuntos que sejam natural ou artificialmente polêmicos. O correto seria adotar, no mínimo, uma atitude de ceticismo cognitivo, ou seja, "não sei se é possível conhecer a verdade, se é que ela existe, então trato como se não existisse e o que os seres humanos expressam não fosse senão perspectivas". Naturalmente, ninguém aplica isso de fato na vida, especialmente os que alegam fazê-lo.
Imagine a cena. A esposa, em posse de fotos comprometedoras do marido no motel com uma prostituta, coloca o dito canalha contra a parede. Ele sai-se com essa "Amor, a representação pictográfica nada é senão forma e cor cujo sentido encontra-se na sua interrelação com o conhecimento de mundo do expectador. Fico feliz que ela mexa com você de alguma forma, mesmo trazendo à tona a raiva, mas lembre-se que o que você vê, em qualquer produção seja textual ou iconográfica é apenas a interrelação do seu eu com heranças culturais impostas por sua criação e sua sociedade. A imoralidade e traição que você vê aí só existem se você permanecer nessa perspectiva. Deixe-me desafiá-la a um pensamento crítico, a experimentar a obra por outros ângulos".
Por mais doutorada em Semiótica que a dita esposa seja, tenho certeza que o marido tomaria tanto um lustre com um processo na cabeça. O relativismo, no fundo, é isso. Pura hipocrisia de quem quer ferir ou ferir-se fingindo para o próximo e/ou para si que não é responsável por isso, utilizada oportunisticamente quando convém mas devidamente ignorada nas coisas realmente importantes.
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