A Mentalidade
da Igreja Ortodoxa
Metropolita de Nafpaktos, Arquimandrita Hierotheos
Trecho do livro de mesmo nome
Tradução e resumo: Fabio Lins
Origem e Revelação da Igreja
Através dos séculos surgiram muitos ensinamentos heréticos que distorceram a verdade revelada e que foram confrontadas pelos Pais “com a funda do Espírito”, isto é com o poder do Espírito Santo. E assim é porque os santos Pais eram os portadores da pura Tradição da Igreja.
Entre estas heresias estavam as do arianismo, dos pneumatôcos que lutavam contra o espírito, dos nestorianos, monofisitas, monotelistas, iconoclastas, etc. Todas estas heresias referem-se principalmente à Pessoa do Cristo, mas também à do Espírito Santo, e, naturalmente, perturbam os fundamentos da salvação do homem. Pois se Cristo não é consubstancial com o Pai, mas sua primeira criatura e se o Espírito Santo não é verdadeiro Deus, a salvação do homem fica em dúvida, a possibilidade de deificação é abortada.
Posteriormente, durante o século quatorze, uma outra heresia surgiu, que foi expressa por Barlaam e baseada no racionalismo. Se os ensinos de Barlaam houvessem prevalecido, o método do caminho ortodoxo para a deificação, que é o hesicasmo, teria acabado realmente em agnosticismo.
A questão que levantamos é se existem ainda hoje heresias. A resposta não é difícil de encontrar porque todos somos testemunhas do fato de que existem hereges nos dias de hoje, descendentes dos grandes heréticos, e de que existem ensinamentos heréticos sendo divulgados, talvez não deliberadamente, por pessoas que crêem, entre outras coisas, que realmente são membros da Igreja de Cristo. E realmente todos nós, em nossa ignorância e falta de conhecimento, podemos cultivar algumas visões erradas a respeito de Deus e da salvação, mas devemos lutar para nunca nos tornarmos heresiarcas ou descendentes dos grandes heréticos que apareceram na história da Igreja.
Além disso, todos os hereges foram membros da Igreja por um tempo, mesmo no clero e eram ativos nela. A profecia do apóstolo Paulo se aplica aqui: “e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas perversas para atrair os discípulos após si.” (At 20,30).
Todas as heresias distorcem a eclesiologia também. Já que a Igreja é o Corpo de Cristo, toda alteração no ensino sobre o Cristo, sobre o Espírito Santo, sobre o modo da salvação do homem também produz conseqüências eclesiológicas.
De fato, pode ser dito que se há uma grande heresia hoje em dia, é a assim chamada heresia eclesiológica. E tal fato deve ser confrontado pelos Pastores da Igreja. Existe uma grande confusão sobre o que a Igreja é e quem são seus verdadeiros membros. Confundimos ou identificamos a Igreja com outras tradições humanas, pensamos que a Igreja está fragmentada ou separada, e ainda mais, ignoramos o modo de salvação da Igreja. Há grandes confusões sobre este grande tema.
Nos capítulos que seguem, buscaremos examinar o assunto da Igreja sob diferentes ângulos e iremos tentar compreender o que os santos Pais dizem sobre a Igreja.
Penso que assim encontraremos auxílio para adquirir a genuína mentalidade da Igreja Ortodoxa, o que é essencial para nossa salvação.
Muitos de nós pensam que a Igreja foi criada no dia do Pentecostes, quer dizer, quando o Espírito Santo desceu nos corações dos Apóstolos. E, claro, podemos dizer que o Pentecostes é o dia de aniversário da Igreja do ponto de vista de que foi aí que a Igreja tornou-se o Corpo de Cristo. Ela adquiriu substância. Entretanto, o início e existência da Igreja encontram-se em tempo anterior ao do Pentecostes.
O professor John Karmirist afirma que existem três fases no surgimento da Igreja. A primeira é a criação dos anjos e dos homens, a segunda é a vida de Adão no Paraíso, mas também o período do Antigo Testamento e a terceira fase é a encarnação de Cristo. De fato, a revelação plena da Igreja ocorrerá na Segunda Vinda de Cristo.
Vamos olhar mais analiticamente tais períodos da Igreja, pois assim poderemos concatenar com o mistério da Igreja e obter uma consciência mais aprofundada de nosso ser e abrangência.
O início da Igreja
É um ensinamento dos santos Pais que com a criação dos anjos ocorre o surgimento da primeira Igreja. E pode ser visto nos escritos dos Pais que os anjos também são membros da Igreja. Além disso, Deus-Pai é o “Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis”. Entre as invisíveis estão enumerados os anjos, que cantam em louvor de Deus. No livro de Jó este testemunho é ratificado: “quando as estrelas nasceram, todos os anjos à alta voz cantaram em louvor de Mim” (Jô 38,7). Assim, antes da criação do mundo sensível haviam anjos, que cantavam em louvor de Deus por causa da criação. E, para asseverá-lo, isto significa que os anjos foram os primeiros a serem criados por Deus.
(...)
A Igreja no Antigo Testamento
Adão e Eva viviam uma vida Angélica no Paraíso. Estavam no estado de iluminação do nous, o que é o primeiro grau da visão de Deus. Estavam em comunhão com Deus.
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Através da queda de Adão, a comunhão do homem com Deus, consigo mesmo e com toda criação, foi quebrada.(...)
No entanto, a despeito da queda de Adão, a Igreja não desapareceu completamente.(...)
Sabemos, a partir dos ensinos dos santos, que todas as manifestações de Deus no Antigo Testamento são manifestações da Palavra, da Segunda Pessoa da Santa Trindade. A diferença entres as manifestações no Antigo Testamento e no Novo é que no primeiro manifesta-se a Palavra não-encarnado, enquanto no segundo vemos as manifestações da Palavra Encarnado.(...)
Assim, a Igreja existia no Antigo Testamento também, a despeito da queda do homem. Os membros desta Igreja eram os justos e os profetas, que tinham a Graça de Deus.(...)
A Igreja no Novo Testamento
Com a Encarnação de Cristo, vemos a manifestação da Igreja. A Igreja torna-se o Corpo de Cristo e adquire sua Cabeça, que é o Cristo.(...)
Pela encarnação de Cristo, a natureza humana que Cristo assumiu foi feita divina, e deste modo, os cristãos, os membros da Igreja, são plenamente membros do Corpo de Cristo.
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Dissemos anteriormente que no Antigo Testamento os santos profetas conseguiram a deificação. Pois de acordo com o ensino dos santos Pais, e de S. Gregório Palamas também, a visão de Deus, que é a visão da Luz Incriada, se dá através da deificação do homem. O homem é deificado e, assim, feito digno de ver a luz incriada de Deus. O homem não consegue ver Deus por suas próprias forças. Na Igreja, cantamos “na Tua luz, vemos a luz”. Assim, a visão de Deus vem de dentro, não de fora, isto é, ela se dá através da deificação do homem. Não se trata de ver coisas e sinais exteriores. Este é um ponto crucial na teologia patrística. (...)
Entretanto, a deificação dos profetas fora temporária, posto que a morte não havia ainda sido abolida e é por isto que foram levados ao Hades e a visão estava fora do Corpo do homem-Deus Cristo. Tal diferença pode ser observada na experiência dos Apóstolos na Transfiguração de Cristo e na experiência que eles mesmos tiveram no dia do Pentecostes.
Na Transfiguração os discípulos viram a glória incriada da Santa Trindade na natureza humana do Logos. Para que pudessem participar desta grande experiência, eles tiveram que ser transfigurados anteriormente: “eles foram mudados, e eles viram a mudança”. Esta mudança dos discípulos é idêntica com a deificação. Através da deificação eles alcançaram a visão de Deus, e, portanto, no ensino patrístico a visão de Deus está conectada com a deificação do homem. Entretanto, embora a visão da glória incriada de Deus tenha vindo de dentro, isto é, através da deificação, ainda assim a Luz que vertia do Divino Corpo humano de Cristo era externa aos santos apóstolos, já que eles não haviam ainda se tornado membros do Corpo de Cristo.
No Pentecostes, recebemos este grande dom. Os discípulos viram a Glória de Deus internamente, isto é, através da deificação, mas também desde dentro do Divino Corpo humano de Cristo, já que com a vinda do Espírito Santo eles haviam tornado-se membros do Corpo de Cristo. No Pentecostes, o Corpo de Cristo não era externo aos Apóstolos como era na Transfiguração, mas interno, no sentido de que os Discípulos tinham tornado-se o Corpo de Cristo e como tais, eram merecedores desta experiência.
Com a Encarnação de Cristo, a Igreja se tornou um Corpo.(...)
A perpetuidade da Igreja
Pela Sua Encarnação, Cristo assumiu a natureza humana, e, realmente, a natureza humana foi unida com a natureza divina imutavelmente, sem confusão, inseparavelmente, sem alteração e indivisivelmente. Jamais se separarão. Permanecem unidas para sempre.
Assim, a Igreja existirá também depois da Segunda Vinda de Cristo e poderemos falar da perfeita manifestação da Igreja. Isto é dito do ponto de vista de que os santos desde já saboreiam “as últimas coisas”, porque, como dissemos no início, as últimas coisas na Igreja não estão isoladas das primeiras e das imediatas. Vivendo na Igreja, alcançamos o estado de Adão no Paraíso antes da Queda, e ascendemos ainda mais alto, porque atingimos comunhão e unidade com Cristo, unidos ao seu Corpo Divino-Humano, tendo tornardo-nos membros do Seu Corpo.
Os santos, desde já, gozam a Glória de Deus e, por isso, S. Simeão, o Novo Teólogo, diz que aqueles a quem foi concedida a visão da Luz incriada de Deus, não estão esperando a Segunda Vinda, porque já estão experienciando o Reino de Deus.
Além disso, o Reino de Deus não é algo criado, nem é uma realidade terrestre, mas como S. Gregório Palamas ensina, a participação no Reino de Deus se identifica e conecta com a visão da Luz incriada.
Entretanto, haverá um contínuo aperfeiçoamento desta participação na glória de Deus. Isto é importante porque se a vida futura fosse uma condição estacionária, então não haveria plenitude. S. Gregório do Sinai diz caracteristicamente: “É dito que na era futura, os anjos e santos crescem perpetuamente nos dons da graça e nunca satisfazem seu desejo por maiores bênçãos. Nenhum lapso ou distanciamento da virtude para o vício ocorre naquela vida”.
E São Gregório Palamás, referindo-se a este ponto, fala do desenvolvimento contínuo na deificação, do aperfeiçoamento contínuo, perguntando: “Os santos não progridem infinitamente na visão de Deus na era por vir?”, ele mesmo responde: “Em tudo é claramente rumo ao infinito”. De fato, ele utiliza o caso do anjo que, de acordo com S. Dionísio, o Aeropagita, torna-se cada vez mais receptivo “a mais clara iluminação”. Deus é infinito e portanto concede Sua graça abundantemente e plenamente.São Gregório Palamas pergunta: “E que caminho resta aos filhos da era por vir senão avançar nisto para o infinito, aceitos de graça em graça e pacientemente realizando sua incansável ascensão?” Tal ocorrerá porque, de acordo com o mesmo santo, “a graça anterior lhes dá força para participar em coisas ainda maiores”.
É claro que, dizendo tais coisas, devemos enfatizar que não se trata de uma questão de “restauração” de todas as coisas, um ensino que não foi adotado pela Igreja, mas de desenvolvimento e aperfeiçoamento dos santos, daqueles que durante suas vidas participaram da energia purificante, iluminadora e deificante de Deus. Para aqueles homens que não participaram nem mesmo na graça purificadora, isto é, não entraram no estágio de arrependimento, este bom desenvolvimento não terá efeito. Além disso, a passagem que mencionamos fala de santos que alcançaram a graça de Deus, e portanto esta graça o está fortalecendo para participarem de coisas ainda maiores. Portanto os ofícios memoriais que a Igreja realiza por aqueles que morreram também possuem este objetivo. Eles auxiliam a pessoa em seu aperfeiçoamento, porque, de acordo com o ensino dos santos, “esta é o perfeito eterno aperfeiçoamento dos perfeitos”.
Neste sentido podemos dizer que depois da Segunda Vinda do Cristo, teremos uma mais completa manifestação da glória de Deus. E é nesta perspectiva que devemos interpretar o ensino dos santos de que desde já temos como que um certo gosto das boas coisas do Reino de Deus.
Conclusão
Depois de tudo que foi relatado, devemos terminar com algumas poucas conclusões, sem, naturalmente, exaurir este grande tema.
a) Apenas em Cristo há salvação. Já que os santos do Velho Testamento viram a Palavra não-encarnada e os santos do Novo Testamento viram e vêem a Palavra Encarnada e têm uma comunhão bem próxima com Ele, isto significa que a salvação do homem se dá apenas através de Cristo. E, naturalmente, já que Cristo é a Segunda Pessoa da Santa Trindade e a salvação é uma ação comum do Deus Triuno, isto significa que somos salvos quando estamos em comunhão a Santa Trindade, quando a graça do Deus Trinitário entra no nosso ser, quando “a graça de nosso Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo” estão em nós.
b) A Igreja não é uma organização humana, mas um organismo Divino-Humano. A fonte da Igreja é o próprio Deus. Ela não é uma invenção do homem, nem é fruto ou resultado das necessidades sociais do homem, mas o único lugar para a salvação do homem. Por outra, cria-se a impressão de que o homem fez a Igreja para poder sobreviver às condições trágicas e difíceis da vida. Mas como explicamos anteriormente, a fonte da Igreja é o próprio Deus, e a salvação do homem se dá nela. Clemente de Alexandria observa: “porque assim como um trabalho de sua mente é chamado mundo, também a salvação do honem é de Sua vontade e esta é chamada Igreja”. E isto significa que a Igreja nunca irá cessar de existir, a despeito de quão difíceis e desfavoráveis sejam as circunstâncias.
c) Na Igreja, todos os problemas estão resolvidos. Não falamos de um Cristianismo abstrato que associamos a uma ideologia, mas da Igreja que é comunhão entre Deus e o ser humano, de anjos e homens, do terrestre e do celestial, do homem e do mundo. A Igreja é “o encontro do céu e a terra”. Paz, justiça, etc., não são meras convenções sociais, mas dons que são dados na Igreja. Paz assim como justiça e todas as outras virtudes, como o amor, são experiências da Igreja. Na Igreja experimentamos a paz real, justiça e amor, que são essencialmente as mesmas energias de Deus.
d) A Igreja é o Corpo de Cristo, que possui o Cristo como sua cabeça e os membros da Igreja como os membros do Corpo de Cristo. Existem membros da Igreja de todas as idades e existirão até o fim dos tempos. E quando não houverem mais membros da Igreja, o fim do mundo virá.(...)
“Definição” e características da Igreja
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A Igreja enquanto Mistério
Primeiro devemos sublinhar que a Igreja é um mistério. Ligada ao Cristo e sendo seu Corpo, não é uma organização humana, mas um Organismo Divino-Humano. Ao mesmo tempo a Igreja não é, como normalmente se diz, o Corpo Místico de Cristo, porque os cristãos, que são os membros da Igreja, são os membros reais do Corpo de Cristo. Então não se deve falar de um corpo místico, abstrato e apreendido espiritualmente, mas do Corpo real de Cristo.
O fato de a Igreja ser o Corpo de Cristo não implica que ela se identifique ontologicamente com Cristo, a Segunda Pessoa da Santa Trindade. Nem deve a natureza divina em Cristo ser identificada com a natureza humana, porque cada natureza retém suas propriedades. Assim, também a Igreja não deve ser identificada ontologicamente com o seu Cabeça, embora esteja ligada ao Cristo.
Em todo caso, mesmo a Igreja não sendo o Corpo místico, mas real de Cristo, é ainda um mistério e o que nela ocorre é mistério. Isto implica que não é possível investigar ou nos preocuparmos com a Igreja através do raciocínio e dos sentidos, nem podemos interpreta-la por algumas características exteriores.
Diz-se normalmente que a Igreja possui sete Sacramentos. Sem negar tal fato, eu gostaria de enfatizar que isto é uma afirmação a posteriori e que, de qualquer forma, existem variações na história do número dos Sacramentos. Os santos Pais pensam, principalmente, em termos de três sacramentos, o do Batismo, Crisma e Eucaristia. O sacramento do Batismo é chamado de Sacramento introdutório, porque introduz-nos na nova vida, como Corpo de Cristo. O Santo Crisma é o assim-chamado Batismo do Espírito, nos dando a possibilidade da graça do Batismo trabalhar em nós. E o Sacramento da divina Eucaristia deifica a pessoa através da recepção do Corpo e Sangue de Cristo. Todos os outros sacramentos (ordenação, casamento, unção, confissão) estão conectados com estes três, pressupondo o Batismo e sendo completados na Divina Eucaristia.
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“Definição” de Igreja
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Em tempos anteriores, várias definições do que a Igreja é foram formuladas por alguns teólogos e tais definições seguem todas mais ou menos a seguinte linha: a Igreja compõe-se de todas as pessoas que crêem em Cristo, que confessam que Jesus Cristo é o Cabeça, que Ele é seu Deus e Senhor, que possuem a mesma fé e confissão, que são santificadas através dos santos Sacramentos, que estão sendo guiadas para a salvação por pastores que possuem sucessão apostólica contínua, etc.
Tais definições foram influenciadas por livros ocidentais sobre a Igreja, pois hoje sabe-se que não é possível dar uma definição do que é a Igreja, já que nem mesmo os santos Pais o fazem. Portanto, observamos que no ensino patrístico não existe definição de Igreja. E enfatizo que teólogos mais recentes deixam claro que as definições de Igreja são derivadas da teologia escolástica do Ocidente.
Na santa Escritura e nos escritos patrísticos o que é dito na maior parte das vezes é que a Igreja é o Corpo de Cristo e uma comunhão de deificação. Que a Igreja é o Corpo de Cristo é visto nas Santas Escrituras, especialmente nas epístolas do Apóstolo Paulo. Nos ensinos de São Gregório Palamas, a expressão “comunhão de deificação” é utilizada porque demonstra qual é o propósito da Igreja. O propósito da Igreja é levar o homem à deificação. Quando afastamos a Igreja deste propósito, a transformamos em um tipo de ideologia, uma organização religiosa e humana. E sabemos muito bem que há uma grande diferença, e eu diria caótica, entre ideologia e Igreja. A ideologia possui idéias, enquanto a Igreja possui vida, uma vida que é capaz de derrotar a morte.
(...) E pode ser dito com certeza que [a imagem da Igreja como Corpo de Cristo] é uma revelação de Deus para o apóstolo Paulo. Enquanto Saulo estava viajando para Damasco para prender os cristãos, Cristo surgiu para ele, e disse: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Quando Saulo perseguia os cristãos, Cristo tratou a perseguição como a Si mesmo. Foi deste modo, como de fato de muitos outros eventos, que o apóstolo Paulo veio a utilizar esta imagem.
O padre George Florovsky, um dos mais eminentes teólogos ortodoxos de nosso tempo, falando da Igreja, afirma: “É impossível começar com uma definição formal da Igreja, pois, estritamente falando, não existe nenhuma que possa alegar autoridade doutrinal. Nenhuma pode se encontrada nos Pais. Nenhuma definição nos Concílios Ecumênicos...Não se define o que é auto-evidente...Faz-se necessário sair da sala de aula e voltar para a Igreja que adora e talvez trocar o jargão da escola da teologia pela linguagem metafórica e pictórica da Escritura. A própria estrutura da Igreja é melhor adequada a ser descrita e representada do que adequadamente definida... Provavelmente mesmo esta descrição será convincente apenas para os que são da Igreja. O mistério só pode ser apreendido pela fé.”
Quase todos os teólogos contemporâneos estão dizendo que não podemos encontrar qualquer definição que exponha integralmente o conteúdo da Igreja, a não ser a de que a Igreja é o Corpo de Cristo e podemos utilizar diversas imagens para caracteriza-lo. Neste ponto, gostaria de mencionar John Karmiris e Panagiotis Trempelas. Eles confessam que não podemos definir a Igreja como os teólogos escolásticos do Ocidente fazem. E isto porque, entre outras coisas, a Igreja é a realidade em que vivemos e não um objeto que examinamos.
Falando do enorme valor da Igreja, São João Crisóstomo diz que este é depreendido dos muitos nomes que ela possui. (...)
E, S. Máximo, o Confessor, não define a Igreja, mas utiliza várias imagens. (...)
(...)
Muitas pessoas, falando da Igreja, referem-se seja a hierarquia, que é apenas o clero e particularmente os Bispos, que constituem a ordem pastoral da Igreja, ou apenas os leigos, que foram batizados em nome do Deus Trinitário. Mas tais pontos de vista são errados e expressam pensamentos Ocidentais sobre a Igreja. Penso que seria útil alargar a análise deste ponto para clarificar alguns elementos essenciais.
Como dito anteriormente, a Igreja é o Corpo divino-humano de Cristo. Os cristãos são literalmente membros do Seu Corpo. Portanto, a Igreja não poderia nunca ser uma organização ou instituição abstrata., mas sim a unidade dos cristãos com Cristo. Mas os cristãos estão divididos em dois grupos, clero e leigos. A distinção não trata de privilégios no que concerne à salvação, mas ao que os cristãos abençoados que irão ajudar o próximo em sua deificação, isto é, pastores que irão liderar os leigos, devem representar na Igreja.
(...)
No ensino patrístico fica claro que os três graus do sacerdócio – diácono, presbítero e bispo – estão conectados com os três graus da vida espiritual, que são a purificação do coração, a iluminação do nous e a deificação. Isto significa que o sacerdócio deve ser fruto da energia purificadora, iluminante e deificadora de Deus, ou pelo menos, orientado nesta direção. Se não for nem um, nem outro, então o sacerdócio não é tomado, não há deposição nem um ministério sacerdotal satisfatório. O trabalho do clero tem duas faces. A primeira é realizar os sacramentos e a segunda é guiar o povo a viver uma vida sacramental. Mas também os leigos, para que sejam realmente membros da Igreja e pertencer ao Corpo de Cristo, devem participar, ou buscar participar, da energia purificadora, iluminante e deificadora de Deus.
Tais coisas estão sendo ditas com a compreensão de que através do Batismo somos alistados como membros da Igreja. Entretanto, se não ativarmos a graça do Batismo através de uma vida de ascese, que a Igreja possui, então não somos realmente seus membros. Podemos realizar uma distinção. Uma coisa é ser um membro em potencial da Igreja, ter aceito a possibilidade de nos tornarmos realmente membros, e uma outra coisa é ser um membro ativo. São Gregório Palamás utiliza a imagem do filho do Rei para explicar isto. O filho nasce no palácio e tem a possibilidade de se tornar o futuro rei, ascendendo ao trono. Mas se antes disso, ele morrer, ele perde esses direitos. O mesmo é verdade para o resto de nós. Por seu nascimento biológico ele tem a possibilidade de se tornar herdeiro dos reino de seu pai. Mas se morrer prematuramente ou for expulso de casa, então perde a possibilidade de herdar todas aquelas coisas boas. Cristo disse ao bispo de Sardes: “Conheço as tuas obras; tens nome de quem vive, e estás morto.”(Ap. 3:1). Naturalmente, ele pode arrepender-se e portanto é chamado a ser “vigilante” e “arrepender-se”, mas, no momento, está espiritualmente morto. Isto não significaque ele não realiza os sacramentos, mas que os realiza como um homem morto. Nikolas Kavasilas diz: “Vamos viver a vida, atraindo a santificação através dos mistérios da cabeça e do coração” atpe que estejamos ligados ao Cristo, até que sejamos membros Dele, “carne de Sua carne, ossos de Seus ossos”. Entretanto, como membros mortos não podemos saborear a vida. “Quando nos cortamos e caímos da inteireza do Santíssimo Corpo, saboreamos os santos mistérios em vão; pois a vida não passa através dos órgãos mortos e separados”.
Assim, na Igreja, alguns são membros em potencial, outros realmente, e para nos expressarmos melhor, alguns são órgãos mortos e outros vivos. Esta distinção, vivo ou morto, é encontrada em toda a tradição bíblico-patrística da Igreja. E é uma pena que não conheçamos toda esta tradição e ensinemos que todos os que recebem o Santo Batismo são membros da Igreja. Para sermos precisos, também são membros, mas que se cortaram completamente para fora da Igreja. Mas algunas órgãos mortos pode ser revividos pela operação da divina graça e com sua própria cooperação.
(...)
Nas epístolas do Apóstolo Paulo, vemos que na Igreja esxistem os glorificados, os iluminados e os indivíduos particulares. Os glorificados são os deificados, que participam da energia deificante de Deus; os iluminados são os que já possuem a oração noética mas ainda não atingiram a deificação, e os indivíduos particulares são os que foram batizados com a água, que estão em um estado de purificação e ainda não receberam o Espírito Santo. Depois destas categorias, existem também aqueles sem fé que ainda não entraram no estágio de purificação e que ainda não receberam o Batismo.
Com base nestas pressuposições, os Santos Padres, chamam a Igreja de uma comunhão dos Santos. Não é uma coleção de pessoas que foram um dia batizadas e estão em um estado de estagnação, mas uma comunhão de pessoas carismáticas. Assim, compreendemos que a Igreja é vida, e não um local de ideologia. Dentro desta perspectiva, S. João de Damasco, chamava a Igreja de “ordem inteiramente escolhida por Deus”, “o povo dos santos”, “o povo de Cristo”, “cordeiros de Deus, povo santo”. Neste sentido, como o Padre George Florovsky diz, a Igreja é uma comunidade sagrada que se distingue claramente do “mundo”, que ela é uma Igreja santa. “S. Paulo claramente utiliza os termos ‘Igreja’ e ‘Santos’ como coextensivos e sinônimos”.
Assim, é um erro considerarmos a Igreja como um local ideológico, religioso ou mesmo mágico. Devemos tê-la como o Corpo de Cristo e uma comunhão de deificação. Com estas pressuposições podemos experenciar na Igreja a vitória de Cristo sobre a morte. Se não morrermos a morte e o ferrão da morte, que é o pecado em nós, pelo poder e energia de Deus, se não nos transformarmos de membros mortos para membros vivos da Igreja, não iremos sentir a vitória de Cristo sobre a morte, o pecado e o demônio. E, assim, para nós, todo o trabalho da economia divina terá sido não um fato pessoal existencial, mas um mero evento histórico. Por isso a Igreja é um local de vida e não um alvo do pensamento.
As características da Igreja
a) Uma
A Igreja é uma. Não existem muitas igrejas. É uma conseqüência do fato de que a Igreja é o Corpo do Cristo Divino-humano. Cristo possui um Corpo; Ele não pode ter muitos corpos. Já que a Cabeça é uma, o Corpo também é um só.
(...)
Ao falarmos da unidade da Igreja, temos duas coisas em mente. Primeiro, é que a despeito da pluralidade dos seus membros, há um só corpo, e a segunda é que é um lugar único para a salvação do homem.
Primeiramente, devemos dizer que a Igreja é uma só a despeito do grande número de membros. Cristo expressou este fato através da imagem do rebanho e do pastor. Já que o pastor que guia a ovelha é um só, e todas as ovelhas juntas formam um rebanho, isto signifca que a unidade da Igreja não é abolida pelo grande número de fiéis, nem pelas Igrejas locais, as quais, entretanto, estão unidas e ligadas em sua fé e vida. Cada Igreja local não é uma de muitas assim chamadas Igrejas, mas a Igreja de Cristo. Também as paróquias não quebram a unidade da Igreja, porque cada paróquia é a Igreja em miniatura. É mais ou menos o mesmo que ocorre com o cordeiro, o Corpo de Cristo. Na Santa Mesa, Cristo é “quebrado mas não dividido”, e, portanto, quando comungamos dos Mistérios Ilibadoss, não comemos uma parte de Cristo, mas o Cristo inteiro, pois Cristo é “partilhado inseparavelmente em partes”. Assim, a despeito da existência de muitas igrejas locais e paróquias, a unidade da Igreja não é rompida. A ruptura se dá através da heresia. Então, realmente não há uma divisão da Igreja, mas uma separação de um grupo que se retira dela. A unidade da Igreja não é perdida, mas os membros heréticos se separam desta unidade e não mais pertencem ao Corpo de Cristo uno.
S. Máximo Confessor diz que, enquanto os Cristãos se dividem em categorias de acordo com idade, raça, nacionalidades, línguas, lugares e modos de vida, estudos, e características e realmente “tendo sido dividos uns dos outros, e muitos tendo nascido na Igreja diferentes e renascidos e recriados através dela pelo Espírito”, ainda assim “ela dá igualmente a todos, e os favorece com uma forma e designação, ser de Cristo e levar Seu nome”. E Basílio, o Grande, diz característicamente: “A Igreja de Cristo é uma, mesmo que endereçada de lugares diferentes”. Estas passagens e especialmente a vida da Igreja acabam com toda tendência nacionalista. É claro que não podemos acabar com as nações e terras natais, mas podemos nos livrar do nacionalismo, o qual é uma heresia e um grande perigo para a Igreja de Cristo.
b) Santa
Já que a Igreja é o Corpo de Cristo , é santa. Foi santificada e purificada por Cristo, que a assumiu e fez dela Seu Corpo.
Referindo-se à Santidade da Igreja, o Apóstolo Paulo diz: “Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” (Ef. 5, 25-27).
A Igreja no Antigo Testamento assemelhava-se a uma prostituta, e Cristo a santificou, fazendo-a virgem. São João Crisóstomo analisa esta verdade graficamente: “Pois o milagre do noivo é que tomou uma prostituta e a fez virgem”. E então, ele escreve que no âmbito humano biológico, o casamento destrói a virgindade, enquanto “com Deus, o casamento restora a virgindade”. Analisando, este grande mistério ainda mais profundamente, Crisóstomo diz: “Deus desejou uma prostituta... sim, uma prostituta: falo de nossa natureza”. Deus deseja a prostituta “para fazer dela virgem”. E, de fato, Ele não envia nenhum anjo, querubim ou serafim, ou qualquer um dos seus servos, “Ele apresenta a Si mesmo, o amante”. E como a prostituta não queria elevar-se, Ele mesmo desce. Ele entra em sua cabana. A vê bêbada, coberta de feridas, enfurecida, empesteada de demônios. Ele se aproxima dela. Ela foge. Ele a convida dizendo: “Eu sou um curador”. Ele imita os costumes dela. Então, “Ele a toma, a adapta a Si mesmo”, quer dizer, se torna noivo dela, lhe dá o anel, isto é o Espírito Santo.
Então Crisóstomo apresenta o diálogo entre Cristo e a ex-prostituta. Cristo disse a ela: “Já que fostes criada no Paraíso, como caístes de lá?” Ela responde que o demônio a expulso de lá. E Cristo continua: “Fostes criada no Paraíso e ele te expulsou. Contemple, Eu a crio em Mim mesmo, Eu a gesto! Já não possuis um corpo e não tens nada a temer do demônio”. A prostituta responde: “Mas sou uma pecadora e suja!” E Cristo diz: “Não se preocupe; sou um curador. Conheço minhas ferramentas, sei que eras de barro e estava quebrada. Eu a reconstruirei com o banho do renascimento e consigná-la com o fogo.”
Citei estas palavras de São João Crisóstomo, porque elas mostram o que a Igreja é e que ela foi santificada por Cristo. Também mostram que a Igreja é santa não através de seus membros, mas porque seu Cabeça, Cristo, é Santo. A santidade dos cristãos emana da santidade do Cristo, em realidade coparticipantes da energia deificadora de Cristo.
Então, já que a Igreja é santa, então também seu trabalho é santificar. O objetivo da Igreja é santificar seus membros, guiá-los para a iluminação e a deificação. O trabalho santificante da Igreja é realizado através dos Sacramentos e da vida ascética, quer dizer através do seu método de cura na integralidade. É claro que não participar na energia deificante de Deus é u ma doença. Não é uma questão psicológica, mas um fato espiritual. Por isso, todos nós que estamos doentes fazemos uso do verdadeiro método de cura e participamos da energia purificadora e iluminante de Deus. E deste modo, também nós somos santificados e somos verdadeiros membros do Corpo de Cristo. Deixamos de estar mortos, e nos tornamos membros vivos.
c) Católica
O termo “católico” originou-se com Aristóteles e significa “completo”, “inteiro”, “o nome comum em contraste com o de cada um”. Podemos também dizer que o termo “católico” identifica-se e liga-se com o que é Ortodoxo.
Quando dizemos que a Igreja é católica, referimo-nos a três aspectos em particular. Primeiro, que ela existe no mundo inteiro, segundo que possui a verdade completa sobre Deus, o homem e a salvação, e terceiro que a vida que Igreja possui é a mesma para todos os Cristãos, para todos os seus membros.
(...)
Em segundo lugar é chamada católica porque possui toda a Verdade, conforme foi revelada no dia do Pentecostes. Aqui, devemos destacar que a teologia escolástica do Ocidente ensina que através das eras adquirimos um maior aprofundamento dos dogmas da fé e que estes estão ainda se desenvolvendo cada vez mais. Este não é um ensinamento ortodoxo. Acreditamos que no dia do Pentecostes, os Apóstolos alcançaram a deificação, experimentaram a Revelação e assim atingiram toda a Verdade. Aqueles, ao longo dos tempos, que atingem a deificação partilham da mesma experiência de revelação. E esta verdade é formulada e expressa em todas as épocas, enquanto as heresias surgem. Assim, não nos desenvolvemos ou aprofundamos na fé, mas, por um lado, buscamos viver a fé, e por outro, buscamos preservar a expressão da fé em termos que irão protegê-la de distorções e más-ações.
Santo Irineu, bispo de Lyon, escreve: “A Igreja, tendo recebido esta mensagem e esta fé, embora espalhada pelo mundo, cuidadosamente a mantém, como se morasse em uma só casa: e mesmo assim confia em todos, já que possui um e o mesmo coração”.
Neste sentido, a catolicidade está ligada com a ortodoxia. A Ortodoxia preserva a verdade plena, tanto revelada quanto dogmática e enquanto experiência, enquanto a heresia quebra a catolicidade da verdade, porque escolhe um aspecto da verdade em detrimento de outro. Por exemplo, Arios não negou que o Anjo do Senhor aparece no Antigo Testamento, mas negou a divindade da Palavra. Os monofisitas não negaram a natureza divina, mas a superenfatizaram ao custo da natureza humana, motivo pelo qual acabaram com a possibilidade da salvação. Isto é observado em todas as heresias. Eles escolhem uma parte da verdade, a separam de sua catolicidade e a superenfatizam ao custo do todo. Por isto, a Igreja Católica-Ortodoxa ensina, como S. Cirilio de Jerusalém diz, “De um modo completo e católico, todos os dogmas que devem ser conhecidos pelo homem”.
Igualmente, a Igreja é chamada católica porque a vida que ela oferece pertence a todos; quer dizer, todos os cristãos têm a possibilidade de atingir a deificação, a despeito do seu estilo de vida, sua ocupação e lugar onde moram. A pessoa ortodoxa é uma que acredita em caminho católico, uma pessoa virtuosa vivendo um caminho católico, e que aplica à sua vida todos os mandamentos de Cristo. Como o Padre Justin Popovits ensina, os membros da Igreja “vivem com o que Lhe é próprio(do Cristo), eles possuem o que Ele possui, e ele sabem através do conhecimento Dele, porque pensam com uma mente católica da Igreja, sentem com um coração católico da Igreja, e desejam com um desejo católico da Igreja e vivem uma vida católica da Igreja”. Somos membros da Igreja “através da vida una, santa e católica da Igreja, da fé santa e católica da Igreja, da alma santa e católica da Igreja, da consciência santa e católica da Igreja, da mente santa e católica da Igreja, da vontade santa e católica da Igreja. E que tenhamos tudo em comum e católico, a fé, e amor, e justiça, e oração, e jejum, e verdade, e tristeza e alegria e salvação e deificação e teoantropocidade, e imortalidade, e eternidade e benção”.
d) Apostólica
A Igreja é chamada apostólica por muitos motivos. Primeiro porque começa em Cristo e Ele é o Apóstolo e Sumo-Sacerdote da confissão. Cristo foi enviado por Seu Pai para fazer a Igreja Seu Corpo e, portanto, para permanecer unido a Ele para sempre.
O Apóstolo Paulo escreve em sua epístola aos hebreus: “Portanto, santos irmãos, coparticipantes do chamado divino, o apóstolo e sumo-sacerdote de nossa confissão, Jesus Cristo” (Heb. 3,1). Cristo é chamado apóstolo e sumo-sacerdote.
Igualmente a Igreja é chamada apostólica porque está baseada no fundamento dos apóstolos.(...) Além disso, é chamada apostólica porque é, também, patrística. Os santos pais nos garantem a apostolicidade da Igreja. Eles são sucessores dos apóstolos, não apenas através da transmissão da graça do sacerdócio, mas porque eles mesmos alcançaram a mesma experiência dos Santos Apóstolos. Realmente, a sucessão apostólica é, por um lado, a ordenação ininterrupta e transmição da graça do sacerdócio, e por outro lado a participação do homem na energia purificadora, iluminante e deificante de Deus.
(...)
Para concluir este assunto, posso dizer que a Igreja é o Corpo de Cristo e uma comunhão de deificação. As características da Igreja são: “uma, santa, católica, apostólica”, e não são independentes uma da outra. Cada uma pressupõe a outra.
A Igreja não é uma organização humana, não é uma lista de pessoas mortas. É o Organismo Divino-humano. E devemos constantemente buscar ser e permanecer membros vivos da Igreja, para experimentar, não intelectualmente mas espiritualmente, a unidade, catolicidade e apostolicidade da Igreja.