sábado, 17 de novembro de 2007

Como a Igreja Católica voltou à Igreja Ortodoxa

Últimas notícias: 23 de setembro de 2023


O assassinato do papa Lino II ocorrido nesta manhã em Berlin chocou todo o planeta. Este Papa, que em uma geração transformou o catolicismo romano, foi morto com um único tiro disparado do revólver de um judeu fanático que acusou o Papa por seus constantes apelos por justiça aos árabes da região da Palestina.

Papa Lino II, cujo nome secular era George Zakiyah nasceu em um pobre vilarejo de língua aramaica no oeste da Síria no dia de São Jorge. 06 de maio de 1945. Embora seus pais, Youssef e Miriam fossem Ortodoxos, eles foram obrigados a criar seu filho como católico, já que naquela época este era o único meio de lhe proporcionar educação e cuidados médicos. De humilde origem campesina, George sempre demonstrou ser um excelente aluno e, com auxílio de uma bolsa de estudos, cursou Letras na Universidade de Damasco. Ao se formar, passou a estudar teologia na Universidade Gregoriana de Roma. Em 1963, aos 28 anos, foi ordenado padre, servindo diversas paróquias no Líbano, principalmente em Beirute. Em 1988 foi nomeado bispo católico de Damasco, demonstrando grande talento para a diplomacia, o que certamente influenciou em sua nomeação como Cardeal em apenas seis anos, em 1994. nessa época, tudo levava a crer que sua carreira eclesiástica chegara ao fim, e que ele se tornaria um erro bispo emérito em alguma cidade do Oriente Médio. No entanto, a morte do Papa João Paulo II levou uma igreja católica dividida e indecisa na escolha de um sucessor a eleger este jovem e desconhecido Cardeal sírio católico como Papa de Roma. Esta surpreendente escolha foi, na verdade, uma concessão. Para os tradicionalistas, eleger um bispo que não fosse europeu ou norte americano, e que fora nomeado Cardeal pelo próprio João Paulo II, parecia a escolha mais segura. Para os liberais, Dom George era uma boa opção para representar os países do Terceiro Mundo, especialmente por ser jovem e representar uma minoria. Somente o estado de Israel manifestou-se contrário à sua eleição. A surpresa foi ainda maior quando o novo papa recusou-se a adotar o nome de "João Paulo III", como todos esperavam, e assumiu o nome de Lino II em homenagem ao primeiro Papa de Roma, São Lino, que fora consagrado por São Pedro. Na verdade, esta decisão do novo Papa foi a primeira de muitas que simbolizavam uma mudança radical em relação aos séculos anteriores e um genuíno retorno às raízes da Igreja.

Isso ficava claro nos slogans utilizados pelo Papa Lino II como "Precisamos voltar ao primeiro milênio para avançar para o terceiro" e "Retroceder mil anos para avançar mil anos". Todas estas frases realmente marcaram seu, segundo suas próprias palavras, "episcopado". Tanto os tradicionalistas quanto os liberais se espantaram com o apelo do Papa para que a Igreja Católica Romana se livrasse de tudo aquilo a que ele se referia como "os erros que a Igreja acumulou durante o segundo milênio". O primeiro ato do Papa Lino neste sentido, de substituir o latim pelo inglês como língua oficial do Vaticano, chocou muitas pessoas. Ele ainda afirmou que Cristo falava aramaico – a língua materna do Papa – e não latim, e que se Ele retornasse hoje não falaria uma língua morta. Mas isso não foi nada comparado a seu ato seguinte – permitir a ordenação de homens casados ao presbitério. Pela primeira vez em 900 anos a Igreja permitia que padres casados celebrassem a missa. Mas a terceira resolução do Papa chocou ainda mais os tradicionalistas. Ao admitir que seus predecessores estavam afogados em dogmatismo, o Papa Lino afirmou que, como Papa, ele não tinha direito de se manifestar a respeito do uso de certos métodos contraceptivos e afirmou, ainda, esta não era uma questão dogmática, mas sim pastoral, e que com relação a esta questão os católicos casados deveriam agir segundo sua consciência e seguindo os conselhos de seus padres confessores. Ele ainda afirmou que, em certos casos, não haveria alternativa à utilização de métodos contraceptivos.

Embora tais ações tenham causado grande comoção, também receberam vasto apoio popular. E foi em meio a este clima que a quarta ação do Papa, um retorno à espiritualidade e à teologia Trinitária tradicional, e a proscrição do "filioque" – que foi removido definitivamente do Credo recitado na Igreja Católica Romana – passou praticamente despercebida, exceto pela Igreja Ortodoxa. Porém, um único ato foi responsável pela extraordinária renovação espiritual ocorrida na Igreja Católica nas últimas duas décadas: a mudança mais profunda em todo o radical episcopado do Papa Lino II foi a compreensão de que muito daquilo que era anteriormente considerado como "espiritualidade" não passou, na verdade, de fraude espiritual – uma das conseqüências foi a "descanonização" de vários "santos" católicos populares.

Com tudo isso, em fevereiro de 2002 tínhamos a impressão de que haveria um cisma na Igreja entre tradicionalistas e liberais. Porém, o Papa acalmou a todos quando, na primavera de 2002, ele declarou sua oposição à ordenação de "sacerdotisas", à cremação, à alteração do cálculo da data da Páscoa, reafirmou a condenação à maçonaria e reintegrou ao calendário universal vários santos que foram anteriormente cassados durante o Concílio Vaticano II, como: São Jorge, Santa Catarina, Santa Bárbara e São Cristóvão. Os tradicionalistas ficaram tão felizes com tais ações que estavam praticamente prontos para perdoar o Papa por suas ações anteriores e aparentemente liberais.

Mas tais ações marcariam todo o episcopado do Papa Lino. Em 2003 ele abdicou de sua posição como líder político e chefe de estado e mudou-se do Vaticano, que foi abolido como Estado e entregue à cidade de Roma como "Museu da Renascença", um ato que horrorizou os tradicionalistas e encantou os liberais. Mas quando, naquele mesmo ano, o Papa promoveu uma renovação do monasticismo e conclamou aos católicos de todo o mundo para que buscassem uma vida em oração e voltassem a confessar-se e a jejuar regularmente – práticas que estavam praticamente abandonadas – a reação foi exatamente a oposta, especialmente quando ele restaurou os jejuns da Quaresma, do Advento e o jejum Eucarístico.

Mas sem dúvida o ápice do episcopado do Papa Lino foi a convocação do Primeiro Concílio de Roma, ao qual foram convidados não somente o episcopado católico, mas também todo o episcopado Ortodoxo, que recebeu direito de voto, e no qual os Patriarcas Ortodoxos foram recebidos como seus pares. Foi neste concílio, ocorrido em 2010, que o Papa Lino, em um grande ato de humildade, condenou o dogma da infalibilidade papal e rejeitou os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção. Suas reformas litúrgicas, que devolveram práticas da Igreja primitiva ao catolicismo incluíam a obrigatoriedade dos padres de ministrar a Crisma concomitantemente ao Batismo, ministrar a Eucaristia nas duas espécies, ministrar a Eucaristia a crianças, que os padres voltassem a celebrar de voltados para o altar e a rejeição de diversas inovações litúrgicas medievais – incluindo até mesmo a condenação da arquitetura gótica como uma "aberração medieval". Tais práticas chamaram a atenção, mas sem dúvida o ato mais surpreendente do Concílio foi o retorno do catolicismo romano à colegialidade da Igreja e a total rejeição daquilo que o Papa Lino chamava de "papismo". E a nomeação de seis Patriarcas para a América do Norte, América Latina e Caribe, África, Australásia, China e Índia, com autoridade absoluta sobre os fiéis de rito latino nestas jurisdições foi certamente a maior reforma dentro da Igreja desde as reformas do Papa Hildebrando no século XI, que estabeleceram o celibato compulsório para o clero e afirmou o autoritarismo papal. Hoje o Papa de Roma é somente uma figura de respeito entre os Bispos Metropolitas da Europa Ocidental, e em outros continentes o episcopado local hoje elege seus próprios patriarcas, de modo completamente independente de Roma.

Na esfera ecumênica a política do Papa Lino foi recebida com entusiasmo por Protestantes e Ortodoxos. Os primeiros aprovaram a condenação do Papa dos "grandes erros" da Idade Média, como as indulgências e a cassação de vários "santos" conhecidos por perseguirem Protestantes e outros dissidentes da Igreja. E, como era de se esperar devido a seu histórico, o Papa Lino buscou ainda mais aproximar o catolicismo da Igreja Ortodoxa, a qual ele se referia como "a fonte da verdadeira tradição católica". a cassação de "santos políticos" ou assassinos como Carlos Magno, Josafá Kuntsevic de Polotsk, André Bobola ou Stepinac de Zagreb foi muito bem recebida, assim como a dissolução das igrejas uniatas, às quais o papa apelou para que retornassem às suas igrejas-mãe na Ortodoxia.

Sua condenação do "filioque" como um "erro espiritual gravíssimo" que levou a uma "deformação espiritual do catolicismo", e condenação do Escolasticismo e sua teologia como "mera filosofia" e a cassação de filósofos escolásticos, juntamente com seu clamor para que a Igreja retomasse os "valores da teologia patrística" foram igualmente bem recebidos. Mas talvez, acima de tudo, sua categórica condenação das Cruzadas como um "ato abominável de banditismo", bem como a condenação das perseguições perpetradas por católicos na Áustria, Polônia e Croácia contra os Ortodoxos durante o século XX e a responsabilidade – direta e indireta – do Vaticano pelo assassinato em massa de Ortodoxos nas duas Grandes Guerras Mundiais foi o que fez do Papa Lino verdadeiramente popular entre os fiéis Ortodoxos. Ninguém irá esquecer o arrependimento que o Papa demonstrou na sua visita à Sérvios, bem como a inclusão dos Novos Mártires sérvios, assassinados por "católicos fanáticos", um ato que despertou a ira do governo linha-dura da Croácia em 2012. Por isso não foi surpresa alguma a inclusão no ano seguinte de diversos santos Ortodoxos no calendário romano, incluindo os novos mártires da Rússia e da Grécia.

Embora as relações com o mundo muçulmano tenham melhorado após a condenação das Cruzadas feita pelo Papa sírio, houve pouca mudança nas relações de seu episcopado com outras religiões – e no caso do judaísmo, a situação chegou até mesmo a piorar, já que o Papa sempre foi um defensor da criação de um estado árabe na Palestina, uma posição que levou a seu assassinato esta manhã em Berlim por um extremista judeu.

Certamente é difícil prever o que irá acontecer agora com a Igreja Católica. E é impossível imaginar um substituto na Europa Ocidental que esteja à altura do Papa que condenou os "erros do catolicismo" e clamou os católicos "a retornarem à Igreja", e que continuamente referia a si próprio como "apenas um bispo de Roma". Desde que o Papa Lino aboliu o cardinalato, a tarefa de escolher um novo Papa recai sobre os Metropolitas da Europa Ocidental. Mas será que este homem, que reescreveu a história do cristianismo ocidental, poderá ser substituído? A questão permanece em aberto, a menos que seja decidido que não haja necessidade de substituí-lo...

Artigo traduzido e adaptado por Ricardo Williams, publicado originalmente no site Orthodox England .

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Atenção: todos os direitos desta tradução estão reservados a seu autor. Este texto não pode ser reproduzido integral ou parcialmente sem a prévia e expressa autorização do tradutor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ao autor deste texto. Seria ignorância minha e falta de caráter apenas apontar os erros. Há coisas que poderiam mudar mesmo, por isso devemos esperar uma Reforma, como tantas que já ocorreram dentro da Igreja. Aí começam os primeiros erros deste texto. O Papa era na Idade Média (sou pesquisador e li muitos documentos e livros de historiografia) o guardião da paz. Suas excomunhões e ameaças de anátema impediram muitas guerras, destronaram muitos reis assassinos e corruptos. O poder era sacralizado, daí essa autoridade benéfica (palavra com juízo de valor, mas fazer o que se a vinda de Cristo também foi benéfica?). Não existia assisténcia dos Estados na Idade Média. Os dízimos e imensas propriedades ditas da Igreja eram utilizadas para manter hospitais que cuidavam dos pobres, doentes, órfãos e viúvas.A "riqueza" da Igreja era dada pelos fiéis muito devotos que realmente construíam igrejas ricas demais, mas eram obrigados a ajudar os pobres. Há muita confusão entre a comunidade cristã e os clérigos. Os altares de ouro são dos primeiros. A inquisição é falada pela boca de ignorantes, a Igreja tratava de inquirir e não de matar. Foram os Estados que se aproveitaram dela para perseguir seus inimigos e matar de acordo com seus códigos penais. Típica afirmação de países com má qualidade na educação e de países que criam religiões porque o Papa não quer aceitar o divórcio de tal Henrique VIII, acabando com todo o sentido da doutrina cristã (como parece ser a origem desse texto inglês). O mal da invenção da imprensa foi a Reforma, qualquer ignorante quis criar sua própria Igreja (como faz Homer Simpson em determinado episódio de The Simpsons"). O mal disso é que as excomunhões não valem nada e as autoridades seculares fazem guerras e matam os ortodoxos e católicos e qualquer ser vivo, prática condenada por Cristo. É de se reconhecer a necessidade de Reforma no século XVI, mas porque não lutar por ela dentro da Igreja? Por que desesperar os monarcas europeus fazendo-os acreditar em fim de sua autoridade com reinos divididos, levando-os a Noite de S. Bartolomeu? Crimes do Estado. Leiam livros medievais e entendam as mentes da época. Naquela época os padres não eram malvados, pensavam apenas em salvar vidas e na caridade cristã (exeções sempre houve, por isso os tribunais eclesiásticos). E as Cruzadas? Foi o maior historiador inglês quem revelou ao mundo que foi uma legítima defesa da Cristandade. Os muçulmanos estavam às portas da Europa, sendo necessário o imperador bizantino pedir ajuda ao Papa Urbano II. Será mesma coisa que vai ocorrer mais tarde com a ameaça dos turcos na batalha de Lepanto. Os bispos foram os únicos defensores das populações cristãs nos fins da Antiguidade quando as autoridades seculares fugiam de medo das hordas bárbaras. E serão durante as Cruzadas. Leia a história da Igreja Ortodoxa Etíope e veja o quanto esta sofreu com a proibição da peregrinação à Terra Santa pelos muçulmanos e sua política da espada. Eles estavam invadindo todas as terras e vejam o quanto sofreram as populações ortodoxas gregas, búlgaras e russas. As Cruzadas não foram ataques, foram defesas que se não tivessem existido estaríamos sob a lei das burkas e outras misturas de leis judaicas com revelações de Maomé. E não falem dos judeus, esse povo já sofreu demais (egípcios,filisteus, gregos, persas, romanos, árabes e turcos, espanhóis, alemães e russos). Prova disso foi a construção de uma mesquita no exato local onde era seu ponto se sacralidade máximo. Muitos erros cometeram os cruzados, nesse ponto concordo, mas ainda sim foi legítima defesa, como defende a historiografia inglesa.

Eva Alice Astrid Leutenegger disse...

Poderia se ter o cuidado em não errar as datas. Estão voltadas para o futuro que ainda não foi vivido. Deve-se corrigir.
Eva A. A. Leutenegger