terça-feira, 23 de janeiro de 2007

O Brasil na História do Ocidente

O Brasil na História do Ocidente
Fabio Lins

A história do Ocidente, desde antes de Roma, pode ser descrita nos
seguintes termos fundamentais: um império, e uma miríade de forças
bárbaras. São papéis que foram interpretados por muitos atores ao
longo dos milênios mas permaneceram os mesmos. Estes dois elementos
sucedessem-se, coexistem, combatem-se e geram um ao outro. Dizer quem
veio primeiro é praticamente como querer dizer se quem nasceu primeiro
foi o ovo ou a galinha.

Com certeza, Roma é o marco inicial dessa dinâmica. Fica também a
questão se ela não teria sido gerada pelos conflitos bárbaros
anteriores, mas com certeza é a partir do Império que essa dinâmica
fica clara e determinante. Todo o resto da história do Ocidente depois
da queda de Roma até hoje é uma grande disputa para ver quem vai ficar
com o papel que outrora foi da cidade italiana. O "resumo da história
ocidental abaixo" demonstra o que alego.

Com a formação do Império romano, alcança-se um veículo no qual as
diversas tribos bárbaras encontram ponto comum para diálogos e mesmo
para regras comuns para guerra, conflitos e etc. O mundo, outrora
fragmentado nas tribos, está finalmente unificado.

O centro do Império romano passa para Constantinopla. O Império, para
desespero dos ocidentais migrara para o Oriente abandonando-os. O
mundo ocidental fragmenta-se novamente. Cada rei local, cada tribo
bárbara clama para seus líderes o titulo de "rei dos romanos",
"imperador dos romanos" nas suas tentativas de conquistar os vizinhos.
A Igreja, que preservou a burocracia imperial em sua organização,
mesmo sem ser estado, é ainda um improviso de unidade. É uma era de
"caos" na sociedade ocidental porque está só é estável se houver
bárbaros *e* império em tensão dinâmica, seja construtiva ou
combativa. Daí a idéia de que o ocidente seria mais "dinâmico" que o
Oriente, que, de fato, fundamenta suas outras civilizações em
principíos unitários e não dísticos.

Com o tempo, algumas tribos alcançam poder e influencia para tentar
preencher o vácuo deixado pela ausência do império e começam a ensaiar
a idéia deles mesmos serem esse império. A primeira tentativa de
realce é, naturalmente, o reinado carolíngeo. É principalmente a
partir daí que a Igreja ocidental começará a ter o papel estatal que
acostumamo-nos a atribuir a ela. Antes disso era apenas a religião
local de províncias abandonadas do império, a mercê dos líderes
tribais. Foi para dispensar a "proteção" inexistente do Imperador
Romano em Constantinopla que os papas passaram a dar apoio aos reis
carolíngeos. É a partir daí também que começam a surgir as primeiras
falsificações, exercidas pelos carolíngeos, para "reescrever" a
história, alegando que o papa recebera o poder secular de Constantino
e portanto podia repassá-lo a eles, francos-carolíngeos. É também aí
que surge a teoria de "desenvolvimento do dogma" pois os bárbaros
francos consideravam o entendimento particular deles do Cristianismo
superior ao dos orientais. Criaram então a idéia de que se podiam
"acrescentar" coisas aos ensinamentos do Cristo pois eles era uma raça
superior, com entendimento superior e portanto livres para ditar
inclusive coisas novas. Os francos eram uma tribo gêrmanica, são os
inventores da tese do "sangue azul" e sua crenças racistas deram no
que deram no século XX. Passaram a colocar papas dos seus em Roma,
provocando a cisão do Cristianismo ocidental de sua matriz oriental. É
a partir daí que o Ocidente começa a achar que o Cristianismo é uma
religião ocidental e o resto é "variante" oriental, quando é o preciso
contrário.

O Império Carolíngeo foi um esforço adiante de seu tempo porém. Foi
uma espécie de primeiro vôo de uma máquina que seria aperfeiçoada ao
longo do segundo milênio. Na medida em que os reinos locais iam se
fortalecendo, cada um tendia a cultivar as sementes de império que
continham em si. É assim que as monarquias medievais vão se tornando
as monarquias absolutistas da Renascença. As monarquias absolutistas
nada mais são que tribos bárbaras ricas e francas candidatas ao posto
de Império e vêem no desenvolvimento das navegações e da descoberta do
Novo Mundo o instrumento perfeito de suas ambições. É durante a
Renascença e o Iluminismo em que os intelectuais desvinculados da
igreja ocidental irão abertamente expor suas teses de formação de uma
"paz universal" que nada mais é que o novo império. Essas idéias
"revolucionárias" serão a fonte da nova ideologia. Enquanto isso,
Holanda, Inglaterra, Espanha e França principalmente lutam
desesperadamente para se tornar esse império. Essa disputa será, no
século XVIII e XIX, finalmente polarizada por Inglaterra e França que
estabelecerão aí dois modelos de império: o império mercantil global,
fundamentado no comércio internacional, representado pela Inglaterra;
e o Império continental, mais tradicionalista, representado pela
França e Napoleão. O primeiro é fundamentado na capacidade de produção
mercantil, o segundo em relações aprimoradas de vassalagem entre
"nobres" e "servos" que também serão papéis representados por muitos
atores a partir daí em todas as variantes e aprimoramentos do modelo
francês a partir daí, dentre eles principalmente o movimento
socialista que defende um estado forte, guiado por uma elite de
vanguarda que irá prover aos servos. Se são nobres por sangue, por
afiliação partidária ou ideológica, não importa. O modelo francês
continental sempre crê em um grupo de pessoas nobres guiando a massa.

Se o filhote do modelo francês são os modelos socialistas, o filhote
do modelo inglês é, evidentemente, os impérios capitalistas liberais,
notadamente os EUA. Foram necessárias duas guerras mundiais para
destruir o domínio das forças tradicionais da Europa, dando abertura
para os EUA herdarem o poderio inglês e a URSS o ideal revolucionário.
Com a queda da URSS, entidades globais como a ONU são as novas
herdeiras, além do difuso movimento "progressista".

Temos assim, hoje, a ocidentalização total do mundo. Duas grandes
forças representam dois candidatos a império: o modelo comercial
americano (que quanto mais se torna império, menos liberal fica, pois
são contradições em termos) e no qual o poder é maior para quem mais
produz para a sociedade, e o modelo de francês de "massa guiada pelos
nobres", quaisquer que sejam os critérios de nobreza ora instituídos.
Nem um nem outro é, realmente honesto no sentido estrito do termo.
Ambos servem de fachadas para planos pessoais de ambição e poder, mas
são dinâmicas sociais com vida própria. Os bárbaros, as tribos menores
e com menos recursos, hoje, é todo o resto do mundo e é precisamente
porque esse conflito cresceu tanto a ponto de recontextualizar os
demais é que se pode falar de ocidentalização mundial.

O Brasil, aqui na América do Sul, nunca quis realmente entrar na
disputa para sermos império e esse é o motivo único e exclusivo pelo
qual continuamos na condição de "bárbaros" a serem conquistados e
pacificados. A tal "mentalidade de colônia" é precisamente a recusa em
ser e agir como império. Não é que queiramos ser dominados. Mas é que,
sem compreender que na selva internacional só existem dominadores e
dominados, recusamos ser dominadores achando que é possível com isso
não cair automaticamente na condição de dominados. Daí que quando
estamos em uma geração, como a atual, que recusa veementemente o
modelo imperial americano, caímos automaticamente na condição de
dominados pelo modelo alternativo de dominados pelo império que já foi
Francês, Soviético e hoje é "globalista" existente em uma rede de
meta-milionários, ONU e associados de nobreza-vassalagem. Quando
encontramos força para recusar isso também, nos tornamos entreguistas
ao modelo americano. O ciclo só vai terminar quando pararmos de pensar
em "com quem vamos nos aliar" para nos apropriarmos das tecnologias
sócio-culturais e materiais propriamente ditas de império e nos
tornarmos nós mesmos uma força imperialista. Isso ou esperamos a
tensão global se acirrar até que aconteça algo, provavelmente uma
guerra, que encerre esse ciclo "ocidental" da organização mundial. Mas
aí, podem ter certeza de que o que sobrar depois, não será mais o
"nós" que conhecemos. Já não haverá Brasil nem nada, mas alguma outra
coisa.

O Brasil, porém, está embarcado nessa bobagem de bloco socialistóide
na América do Sul exatamente seguindo a dinâmica descrita. Vamos nos
tornar colônias do "império globalista" precisamente porque não
juntamos à recusa do império comercial ações e vontade de sermos um
império. Por isso nenhuma retração do gigante colonial Brasil perante
gritos de anões com pretensões de serem capatazes regionais do
imperialismo globalista me surpreende. Estamos tendo exatamente o que
plantamos.

Um comentário:

Anônimo disse...

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